Coluna de Elza de Mello - 15 de agosto/2018

15 Ago, 2018 15:18:52 - Colunistas

IÇARA NOSSA TERRA NOSSA GENTE (308)

Euclides Rodrigues Pimenta da Cunha nasceu 20 de janeiro de 1866, na Fazenda Saudade, em Santa Rita do Rio Negro, município de Cantagalo, na Província do Rio de Janeiro. Era filho de Manuel Rodrigues da Cunha Pimenta e Eudóxia Alves Moreira da Cunha. Órfão de mãe desde os 3 anos, passou a viver em casas de parentes em Teresópolis, São Fidélis e Rio de Janeiro. Em 1883 ingressou no Colégio Aquino, onde foi aluno de Benjamin Constant, que muito influenciou a sua formação introduzindo-o à filosofia positivista. Em 1885, ingressou na Escola Politécnica, e no ano seguinte, na Escola Militar da Praia Vermelha, onde novamente encontrou Benjamin Constant como professor. 

Contagiado pelo ardor republicano dos cadetes e de Benjamin Constant, professor da Escola Militar, durante uma revista às tropas atirou sua espada aos pés do ministro da Guerra Tomás Coelho. A liderança da Escola tentou atribuir o ato à "fadiga por excesso de estudo", mas Euclides negou-se a aceitar esse veredito e reiterou suas convicções republicanas. Por esse ato de rebeldia, foi julgado pelo Conselho de Disciplina. Em 1888, desligou-se do Exército. Participou ativamente da propaganda republicana no jornal A Província de S. Paulo.

Proclamada a República, foi reintegrado ao Exército recebendo promoção. Ingressou na Escola Superior de Guerra e conseguiu tornar-se primeiro-tenente e bacharel em Matemáticas, Ciências físicas e naturais. Casou-se com Ana Emília Ribeiro, filha do major Sólon Ribeiro, um dos líderes da proclamação da República. Em 1891, deixou a Escola de Guerra e foi designado coadjuvante de ensino na Escola Militar. Em 1893, praticou na Estrada de Ferro Central do Brasil. 

Durante a fase inicial da Guerra de Canudos, em 1897, Euclides escreveu dois artigos intitulados A nossa Vendeia,  que lhe valeram um convite d'O Estado de S. Paulo para presenciar o final do conflito como correspondente de guerra. Isso porque ele considerava, como muitos republicanos à época, que o movimento de Antônio Conselheiro tinha a pretensão de restaurar a monarquia e era apoiado por monarquistas residentes no país e no exterior.

Em Canudos, Euclides adota um jaguncinho chamado Ludgero, a quem se refere em sua Caderneta de Campo . Fraco e doente, o menino é levado para São Paulo, onde Euclides entrega-o a seu amigo, o educador Gabriel Prestes. O menino é rebatizado de Ludgero Prestes.

Euclides deixou Canudos quatro dias antes do fim da guerra, não chegando a presenciar o desenlace. Mas conseguiu reunir material para, durante cinco anos, elaborar Os Sertões: campanha de Canudos (1902). Os Sertões foi escrito "nos raros intervalos de folga de uma carreira fatigante", visto que Euclides se encontrava em São José do Rio Pardo liderando a construção de uma ponte metálica. Neste período estabeleceu intensa amizade com Francisco Escobar, que recebeu primeiramente a sua obra Sertões. O livro trata da campanha de Canudos (1897), no nordeste da Bahia. Nesta obra, ele rompe por completo com suas ideias anteriores e pré-concebidas, segundo as quais o movimento de Canudos seria uma tentativa de restauração da Monarquia, comandada à distância pelos monarquistas. Percebe que se trata de uma sociedade completamente diferente da litorânea. De certa forma, ele descobre o verdadeiro interior do Brasil, que mostrou ser muito diferente da representação usual que dele se tinha.

Euclides se tornou internacionalmente famoso com a publicação desta obra-prima que lhe valeu vagas para a Academia Brasileira de Letras (ABL) e para o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB). Divide-se em três partes: A terra, O homem e A luta. Nelas Euclides analisa, respectivamente, as características geológicas, botânicas, zoológicas e hidrográficas da região, a vida, os costumes e a religiosidade sertaneja e, enfim, narra os fatos ocorridos nas quatro expedições enviadas ao arraial liderado por Antônio Conselheiro.

Foi eleito em 21 de setembro de 1903 para a cadeira 7 da Academia Brasileira de Letras na sucessão de Valentim Magalhães, e recebido em 18 de dezembro de 1906 pelo acadêmico Sílvio Romero. E hoje é um imortal da ALB. 

Içara, na presença da AILA – Academia Içarense de Letras e de Artes relembra nosso imortal e o valor de suas obras nesse dia especial a ele dedicado. Um escritor é um eterno guardião de seu fazer literário.

ELZA DE MELLO
Postado por ELZA DE MELLO


EXPRESSO COLETIVO ICARENSE