Personagens içarenses - parte 4 - é o artigo da historiadora Elza de Mello Fernandes
Içara (SC)
Joana da Rosa foi o nome de batismo. Nasceu no lar de Feliciana e Francisco da Rosa. Ao casar passou a assinar-se Joana da Rosa dos Santos. Bem cedo iniciou a carreira no Magistério. Lecionou na Escola de Sanga Funda, substituindo o professor Elias Paccagnan que havia sido removido para a escola de Sanga da Toca.
A Professora Joana, carinhosamente conhecida como Professora Noca, mocinha bem nova e ainda solteira, morava na casa escola e um dos alunos, Aniceto Réos, dormia em sua casa para lhe fazer companhia à noite. Em seguida, ela casou com Antônio Santos, e estabeleceu-se com a família na casa escola. A sala da casa era a sala de aula. O resto da residência era privada à vida da família da professora.
Além das aulas, a professora participava de um coral na Capela São Miguel, em Vila Nova, ensinava o catecismo aos alunos, organizava procissões e teatralização da Paixão e da Natividade, os rituais de exéquias e solenidades religiosas. A família ia crescendo e a professora se desdobrava em atenção aos filhos e alunos.
Quando a Família Réús deixou as terras e mudou-se para Praia Grande (SC), o terreno passou para outro proprietário. Era o mês de setembro e a comunidade festejava o Padroeiro São Miguel Arcanjo. A professora Noca participava com a família e só quando chegou em casa soube do ocorrido: a residência pegou fogo e tudo o que tinha lá dentro virou cinzas.
Sem onde se agasalhar e com os filhos assustados, o casal dirigiu-se para Pedreiras (atualmente pertecente ao Balneário Rincão-SC) e Noca substituiu a professora Ana, sua irmã. Os alunos de Sanga Funda, alguns foram terminar o ano letivo em Vila Nova, outros pararam de estudar.
Urussanga Velha já era Distrito de Criciúma e os moradores de Sanga Funda fizeram uma comissão e pediram uma escola ao prefeito de Criciúma (SC).
Então, foi feito um acordo de que José Fernandes Silveira daria o terreno e seria ali construído a casa escola. José Fernandes Silveira também cederia terras para Antônio Santos fazer a lavoura para o gasto da família.
E assim a professora Joana da Rosa voltou a lecionar em Sanga Funda.
Quando a Praia do Rincão passou a ter uma população fixa, foi pedido uma escola para as crianças que caminhavam até a unidade de Pedreiras, ou Serraria. O secretário de Educação da Rede Estadual buscou a professora Joana da Rosa dos Santos para lecionar na Escola Estadual de Praia do Rincão e ela aceitou. Voltou à Rede Estadual de Ensino.
Morando na Praia do Rincão, a casa escola foi construída com a madeira da igrejinha que havia sido desmanchada para a construção de uma capela nova em alvenaria. E dona Noca passou a servir a comunidade, além da sala de aula: estava sempre colaborando na igreja, nas exéquias e também na pesca onde o marido passou a desempenhar como profissão, para aumentar a renda familiar. Depois eles compravam os peixes de outros pescadores e, numa carroça, saiam a vender nas colônias, desde Terceira Linha, onde ela havia nascido, até os diversos sítios que esperavam para o troca-troca com os produtos da lavoura, para a alimentação da família. Tinha os fregueses certos.
Educada nas letras e nas batalhas da vida, a professora Noca serviu a sociedade Içarense com o fazer didático, e deixou aos filhos um rico legado. Tinha orgulho da origem afro-brasileira e de sua condição de mãe e cidadã brasileira. Foi uma mulher que viveu além de seu tempo.